sexta-feira, 1 de abril de 2011

A Menininha que há em mim...

Lendo T.D. Jakes, percebi que há em mim uma Mulher, que todos conhecem, e uma menininha.

A Mulher é madura, é forte, é precisa, é decidida, é completa. Mas menina quer colo, reconhece que é pequena, que é frágil, que precisa de um Pai forte e poderoso para protegê-la dos perigos que a assombram, e que muitas vezes nem existem ou não são tão perigosos. É a menininha que chora quando alguma coisa machuca, e dá gargalhadas quando algo é bom. A menininha pode ser conhecida como a essência de mim, ou quem o Criador criou, e que se deixa cuidar, que se deixa amar. A Mulher é autossuficiente, é polida por todas as pressões que o mundo coloca, e rebate a todas elas com coragem e eficiência, dando ao mundo aquilo que ele pede, aquilo que ele procura. Ela cobra de si mesma perfeição, controle total das emoções e comportamentos. Nada pode sair do script, e ele precisa ser revisado por muitas vezes, para, como num filme, eliminar as falhas do texto e torná-lo o mais convincente possível, para que quem assiste encontre coerência e seja convencido da realidade daquelas palavras, que as vezes não são reais.

Mas afinal, a menos que eu sofra de um desvio de personalidade, como é possível coabitar em mim essas duas pessoas tão impressionantemente contraditórias?
A Menininha é a essência arquitetada pelo Criador, é a simplicidade de mim mesma, é a verdade sobre mim, que só é possível conhecer quando há intimidade e confiança. É a parte vulnerável de mim mesma, que pode ser tocada, e facilmente destruída por mãos mal intencionadas. Essa parte real de mim, está escondida e protegida pois ela não é capaz de sobreviver aos abusos e maus tratados do mundo perverso que vivemos. Ela é inocente, e não vive se defendendo. Ela se entrega, quando tocada, a um bom colo. Ela sorri quando quer sorrir, chora quando quer chorar, grita quando quer gritar, faz manha e bico quando algo sai diferente do que queria. Ela é absolutamente honesta, e o mundo não suporta esse tipo de honestidade, que diz claramente tudo que sente e pensa, e muitas vezes se comporta mal. Ela é inconveniente para esse mundo, pois não se preocupa em agradar ninguém, mas simplesmente fazer aquilo que deseja, que casa com o que acredita, que lhe tira boas risadas e rejeita tudo que a faz sofrer. Ela não se importa em como as pessoas a veem, mas não ao ponto de ser egoísta. Ela quer encontrar um amigo para armar a próxima brincadeira, e rir junto. Ela quer a companhia de alguém que possa ser livre como ela é, e ela não permite rédeas. Ela quer apenas ser ela mesma, e respeita quem os outros, livres como ela, são. Ela deseja relacionar-se com aqueles com quem tem afinidade, e não lhes impõe relacionamento, ela compartilha de si, e recebe de bom grado o que se tenha para compartilhar.


Ela conhece de cor o caminho para o colo do Criador, e Ele sempre está disponível para que quando algo a assusta ela possa correr, descalça, e chorar, apontando os bichos que a perseguem. E o Criador a traz para si, e quando fita seus olhos, todos os bichos, que ali estavam a um segundo, dão lugar a um jardim perfumado, com flores tão vivas e belas que trazem serenidade e paz. Então o aconchego do colo do Pai parece ainda mais gostoso, e o toque suave de suas mãos a fazem cair no doce e profundo sono de uma criança que sabe que está segura, que é amada e tudo estará bem quando acordar. E esse sentimento produz nela um amor tão intenso e tão fraternal pelo Pai, que excede a menininha, e muitas vezes alcança a Mulher, que parece uma muralha, colocada ali para segurar todas as investidas do mundo caído e mal de ridicularizá-la, e colocar a menininha numa situação tão dolorida que não possa suportar.

A Mulher é feita para reagir aquilo que está ao seu redor de forma satisfatória e correta aos olhos de todos os outros. Ela é uma camada que protege a menininha doce e honesta, rebatendo e afastando todos que oferecem risco. Ela é também uma espécie de peneira, que seleciona aqueles que podem conhecer uma camada a mais de si mesma, e de repente podem até tocar a menininha. Ela, socialmente é bela e correta, mas interiormente é vazia, e irreal. Ela é apenas uma máscara, que pode ser facilmente quebrada por mãos sábias como as do Criador. E essa máscara tem inúmeras facetas, algumas convincentes, outras bem feias e assustadoras. Ela surgiu ao longo da vida, para driblar as dores e pecados dela, e contra ela cometidos. Ela se tornou necessária para preservar a vida da menininha, mas agora ela não precisa mais estar ali.

Sorte da Mulher que o Criador a amou, mesmo sendo tão distante do que Ele criou, e ele traz à sua lembrança a identidade da menininha, fazendo a voltar à pequena constantemente. Nela está sendo criada sua habitação espiritual, e ela é pautada na verdade, e aos poucos, com as memórias sobre a menininha e as novas construções que o Criador tem feito, a Mulher pode derrubar suas amarras, e deixar a menininha surgir de vez em quando, para, quem sabe um dia, ficar de vez, tendo como escudo o próprio Criador. Para esse dia chegar, a Mulher tem que se lançar aos braços do Criador sem medo de cair, confiando na Sua graça poderosa.


E aí, meu Amado Criador, quando poderei ser para sempre a Sua menininha?